Nem todo homem gosta da instituição do casamento. Nem todo homem é adepto do 'crescei e multiplicai'.

sábado, 2 de março de 2013

Trabalho braçal e as Tradições Viris



Fui um adolescente e pós-adolescente que trabalhava e estudava, apesar da família ter conforto material. Ajuizado e aventureiro, atípico, viajava sempre que podia... e invariavelmente sem muito dinheiro. Eram tempos de pouca violência (urbana - suburbana - rural) neste constrangedor país. Nestas viagens (dentro e fora do Brasil) às vezes trabalhei em ocupações braçais, que muito me fortaleceram e me tiraram um certo ranço de classe média.
Nunca fui a um parque temático norte-americano ou me interessei por exagerados templos de consumo. Não digo que desta água não beberei, mas em lugares onde a consumista classe média brasileira viaja ou frequenta, eu passo bem longe. Reparem que todo corrupto e filho da puta brasileiro tem moradia na Flórida; justo neste belo e quase caribenho estado norte-americano, onde Hemingway e muita gente boa viveu.
Como estou sempre na contra-mão dos dados da economia oficial vigente, viajo cada vez menos: rodoviárias, aeroportos, hotéis e pousadas andam absolutamente lotados; e tudo extorsivamente caro para os meus padrões espartanos. Cartões de crédito são distribuídos às pencas para pessoas que jamais honrarão seus compromissos bancários e sabe-se lá o que acontecerá a este tipo de gente: claramente um novo tipo de escravidão com dívidas impagáveis. E eu assisto de camarote, sem ação e indefeso, meus antigos paraísos sendo invadidos por esta horda de gente (grosseira e sem noção da cultura local e de seu meio ambiente) que devastam os locais por onde passam ou se estabelecem.
Gostaria de ter um caminhão e trabalhar viajando pelo Brasil e Cone Sul. Mas, imaginem só a encrenca que eu arrumaria nestas estradas abandonadas e criminosas, salvo aquelas privatizadas. Meus colegas de trabalho (com honrosas exceções) fatalmente seriam ignorantes, casados e com filhos, atrelados a alguma religião repressiva. Desnecessário falar dos assaltos que sofreria de facções criminosas bem aparelhadas e com uma logística e modus operandi de dar inveja. Não há órgãos de segurança (federais, estaduais, municipais) que dêem conta desta endêmica situação.
Fui motociclista (desde os 18) por muitos anos e até este prazer me foi tirado. Vendi faz tempo minha última e querida moto, graças a esta porra de violência que não respeita quem estiver em duas rodas. A barbárie urbana não perdoa ninguém e não tenho mais saco para motoqueiros imbecilizados, sem noção de leis de trânsito e cordialidade masculina, assim como os assaltos perpetrados por caras drogados que nada têm a perder ao tirar a vida de motociclistas indefesos.
Num passado bem recente os trabalhadores braçais brasileiros eram muito bem articulados (culturalmente e socialmente), principalmente o operariado dos centros industriais e portuários. Seus fortes sindicatos, nem sempre pelegos, e seus movimentos reivindicatórios deixaram uma perene marca na história política brasileira. Os antigos operários eram destemidos e com poucos lastros repressivos. As seitas religiosas invasivas ainda não faziam parte do dia a dia deles, e que hoje ocupam horário nobre de nossas emissoras de rádio e tv. Nossas centrais sindicais não eram tão machistas, babacas, reacionárias e pelegas como agora. Operários homens, que quisessem, faziam sexo com outros homens sem dó nem piedade: não se tocava no assunto, não se cobrava nada, não se fotografa, não se “dedava”... era uma outra ética masculina.
 
Apesar de tudo, acho louvável que um adepto das Tradições Viris:
- Tenha uma fé não repressiva (leia Máximas Délficas), desde que mantenha sempre uma postura laica. Se for ateu convicto, sem necessidade de uma vida espiritual, admirável também será.
- Faça parte de um sindicato ou associação de classe profissional (inoperante ou não, trabalhador ou patronal). Neles sempre poderá contar com um departamento jurídico (útil em ações trabalhistas) e com convênios médicos / odontológicos, que sempre saem bem mais em conta.
- Não se descuide do futuro e que faça uma poupança para a velhice, pois ela chega lépida e nem sempre fagueira. A juventude é efêmera, infelizmente. Muitos de nossos adeptos são da terceira idade ou estão chegando lá.
- Contenha a ansiedade e não seja imediatista; tudo a seu tempo.
- Caso seja novo e imaturo, aproveite sua “jeunesse” para estudar e trabalhar com afinco para uma almejada independência econômica.