Nem todo homem gosta da instituição do casamento. Nem todo homem é adepto do 'crescei e multiplicai'.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Feminização do homem, segundo Gore Vidal em 1973/74


Fim do ciclo viril?

Transexual e transgênero são assuntos delicados e devem ser tratados com respeito. Já a feminização e a androginia seriam fenômenos cíclicos?

Gore Vidal (1925-2012) foi um dos maiores escritores norte-americanos. Aristocrata de nascimento, ele botou o dedo na ferida do puritanismo (fundamentalismo cristão) e da hipocrisia de seu país. Não deixava pedra sobre pedra, fez e escreveu o que quis durante toda sua vida. Foi amigo e transou, segundo ele, com quase todos o caras da Beat Generation. Como todo bom intelectual, combativo e libertário, calava a boca de seus adversários com suas bem fundamentadas ideias de suas antológicas obras. Homens como ele fazem muita falta. Seguem alguns trechos de duas entrevistas dadas a John Mitzel / Steven Abbott (1973) e a Steven Abbot / Tom Willenbecher (1974):

- “Quando eu era moço, havia toda uma população flutuante de machos héteros que queriam dinheiro ou excitação ou o que fosse e davam a bunda por um certo período da vida. Depois, casavam e terminavam como trabalhadores da indústria de construção civil, bombeiros ou policiais. Pronto, a página fora virada. Agora emergiu um novo tipo, que me parece feminino: ombros macios, músculos de seda, cadeiras largas, voz estridente.”
- “Não sei se o corpo está mudando fisicamente, se alguma espécie de mutação está em curso, se a natureza não estará dizendo, pelo instinto, que não precisamos mais de bebês. Os homens estão ficando um pouco menos masculinos, e as mulheres um pouco menos femininas.”
- “Na minha mocidade, se o atleta mais formoso era ‘entendido’, todos os garotos iam para a cama uns com os outros. Se não era, os demais o imitavam e iam para a cama com as meninas. Eu desenvolvi a teoria de que os estudantes tendem a imitar as preferências sexuais do ídolo da escola.”
- “Claro que dá em passividade. Os meninos eram criados antigamente nos quintais ou terrenos baldios dos fundos das casas, jogando beisebol ou pulando muros e fazendo todas as outras coisas que meninos fazem. Agora desde pequenos vivem pregados em anúncios de televisão e comendo porcarias de lata.”
- “Conheço a mania da mídia, de rotular todo mundo. Sim, ele é a Bicha Oficial. Sim, ele é o Marxista Oficial.”
- “O intelectual é a última pessoa a querer ir para a cama. Ou o veado. A bicha nervosa.”
- “Se não se ama uma pessoa sexualmente, então não se ama essa pessoa.”
- “Sou tão promíscuo quanto posso.”

sábado, 6 de agosto de 2016

Omosessuali di estrema destra



Nos idos de 2010/11, quando internet era infinitamente mais interessante e menos tola e perigosa, encontrei um blog de um italiano chamado Ben: http://signal-it.blogspot.com

Curiosamente, ele deixou de postar faz tempo; seu blog continua online, mas abandonado como uma ruína romana. Nunca vi a mais remota menção dele e seu link na web brasileira; será que eu fui o único leitor dele no Brasil? Não o divulguei (apenas a dois dos nossos), pois tenho receios de que caras sem traquejo e discernimento político possam entrar nesta ‘trip’ de liderança / extrema direita / neo nazifascismo que retornam ciclicamente em épocas de crises. Fico perplexo com membros das ditas ‘gangues nazis brasileiras’ que saem fantasiados pelas madrugadas de São Paulo, Curitiba, Porto Alegre (entre outras) para agredir violentamente todos aqueles (sabemos quem) merecedores de suas iras covardes. Em geral estes perigosos caras, oriundos de nossas tristes periferias, são a ‘fina flor’ da miséria humana brasileira; seus tipos físicos são distantes de qualquer estética europeia ou ariana (matriz de suas ideologias): são cafuzos / mulatos / caboclos descendentes de nossa riquíssima e bela miscigenação. 

Ben é articulado e muito culto, escreve com pertinência dentro de seus conceitos de supremacia étnica italiana. Em princípio, ele parece ser um cara extremamente liberal e aberto, preocupado com problemas contemporâneos de nosso mundo: políticos / ecológicos / sexuais masculinos:

“Avviso ai naviganti - Aviso aos Navegantes”: http://signal-it.blogspot.com/p/prima-pagina.html

“Perché questo blog - Por que este blog”: http://signal-it.blogspot.com.br/p/perche-questo-blog.html

A postagem “Orinatoi e Paruresi  -  Mictórios e Paruresis” é um achado. Ben discorre sobre um assunto que diz respeito a muitos de nós e que eu desconhecia: http://signal2-it.blogspot.com.br/2012/06/orinatoi-e-paruresi.html

Porem na postagem “Mutilazioni genitali maschili  -  Mutilação da genitália masculina”, sinto que Ben ofende de forma discreta os costumes de outras etnias: http://signal-it.blogspot.com.br/2011/01/mutilazioni-genitali-maschili.html

Á medida que vamos lendo as demais postagens, as ideias fascistas italianas do autor afloram. Leiam este blog com atenção e discernimento (via PC, jamais por smartphones); dentro dele há um outro chamado Blog Giornaliero: http://signal2-it.blogspot.com


Não se iludam: historicamente todos os regimes de extrema direita e esquerda (ocidentais e orientais) perseguiram e assassinaram homossexuais masculinos. É uma regra!

terça-feira, 7 de junho de 2016

Walt Whitman (1819-1892): poeta dos homens camaradas


“Lego umas poucas canções, deixo-as no ar, para camaradas e amantes...”  
Labour Saving Machine - Walt Whitman.

“Eu anuncio a estreita afeição, declaro que que ela será ilimitada e sem reservas. Digo que ainda encontrarás o amigo que estavas procurando.”   
So Long - Walt Whitman. 

Tradução: Pompeu de Souza. in Oswaldino Marques - Videntes e Sonâmbulos, Rio de Janeiro: 1955.


“Nós dois, camaradas, agarrados um ao outro, sem largarmos os elos das mãos um do outro.
A errar, daqui prali, pelas estradas, para o Norte, para o Sul, sem destino certo.
Fortes e alegres, abrindo os cotovelos mas prendendo os dedos, um do outro.
De mãos dadas, braços dados, sem medo, a comer e beber e dormir e fazer amor.
Sem outra lei que nós mesmos, vagando, fingindo que trabalhamos; e furtando também e ameaçando a ordem das coisas estabelecida.
Mesquinhos, desprezíveis, alarmando os padres, arrostando o fardo, respirando ar, bebendo água, e dançando na relva e na areia da praia.
Varando as cidades densas, populosas, zombando da lei, de tudo zombando.
Repudiando a fraqueza, na nossa pilhagem gloriosa.”   
We Two Boys Together Clinging - Walt Withman.   

“Num olhar de relance, como se fora por uma fresta, vejo operários e motoristas agrupados juntos ao balcão do bar, em torno da estufa, pois é noite fria de inverno.
Eu, quieto no meu canto, despercebido, vejo um rapaz que me agrada, que se acerca e se abanca à mesa mais próxima, tão perto que pode pegar minha mão.
E, por longo tempo, em meio à bulha e ao tropel das idas e vindas, em meio à bebedeira, às pragas, às pilhérias pesadas, há duas pessoas satisfeitas.
Tão felizes por estarem juntas que poucas palavras bastam, ou nenhuma.”  
Glimpse - Walt Whitman.

“Camarada, isto não é um livro,
Quem pousa a mão aí, toca num homem.
(É noite agora? Estamos, aqui, a sós?)
É a mim que tomas, sou eu quem toma a ti,
Salto dentre estas páginas aos teus braços - a morte traz-me à tona.”
So Long - Walt Withman.

Tradução: Pompeu de Souza. in Oswaldino Marques - Videntes e Sonâmbulos, Rio de Janeiro: 1955.


“... el sol canta por los ombligos de los muchachos que juegan bajo las puentes.”
Ode a Walt Whitman - Frederico Garcia Lorca.

Walt Whitman - book jacket design by Robert Littleford

domingo, 10 de abril de 2016

Saudades de Jack Malebranche


Jack Malebranche - Jack Donovan

Saudades do escritor Jack Malebranche, autor de 'Androphilia: A Manifesto. Rejecting the Gay Identity, Reclaiming Masculinity' - Baltimore, Md: Scapegoat Publishing, 2006.
Os moralistas tremem ao saber que ele foi ‘satanista’ no passado, e isto ainda serve de munição aos ‘gays fundamentalistas’ e 'héteros enrustidos'. Tal fato nunca me interessou e cada homem segue seu caminho, laico (secular) ou não.
Malebranche foi o pseudônimo de Jack Donovan (JD). A primeira edição de ‘Androphilia’ tinha Malebranche como autor e virou item de colecionador; já as edições posteriores levam o nome de Donovan. Por que uso o termo ‘saudades’ no título da postagem? Malebranche dizia coisas, na época, que me interessava e fortalecia: era ‘afiado’ e sagaz; ‘deitava e rolava’ em assuntos relacionados ao ‘gayismo’; tinha um humor ferino e educado, qualidade que aprecio e que se perdeu... talvez reflexo do mundo atual e do seu novo público, bem diferente dos leitores de sua obra pioneira.
Em princípio achava Malebranche mais universal que o Donovan, mas vi que eu tinha parado no imponderável tempo e que estava errado. Donovan é ‘foda’ e entendo que sua fase de combate ao ‘gayismo’ já faça parte do passado. Ele agora trilha caminhos que enfatizam o ‘tribalismo masculino’, de antigos costumes viris para o fortalecimento dos homens em tempos de globalismo. É um desenvolvimento natural de seu hercúleo e bem fundamentado trabalho com livros, vídeos, palestras, cursos, artigos. Depois de ‘Androphilia’, escreveu ‘Blood-Brotherhood and Other Rites of Male Alliance’, ‘The Way of Men’, ‘No Man’s Land’, ‘A Sky without Eagles’, ‘Becoming a Barbarian’. Seu trabalho é drigido a qualquer homem do planeta, mas creio que haja mais ressonância cultural entre homens norte-americanos / europeus / canadenses / australianos.

Sou um orgulhoso homem de ascendência portuguesa e italiana e  oriundo da ‘cultura rural caipira’ do Estado de São Paulo. Sou um adepto de JD, mas eu duvido que seu Ideário tenha alguma ressonância em meu país (Brasil). Digo isto, por ser um crítico permanente do padrão médio do homem brasileiro: tosco, oligofrênico, ‘programado’, refém do ‘crescei e multiplicai’.

A violência urbana / suburbana / rural, do 1º ao 3º mundo, veio para ficar... e JD sabe disto. Penso nas palavras de Lawence Ferlinghetti (líder da geração beatnik e fundador da antológica livraria City Lights Books - San Francisco, EUA), ditas recentemente à Folha São Paulo (tradicional jornal brasileiro):
"Fronteiras serão mais porosas e o mundo vai ser tomado por hordas étnicas em busca de abrigo e comida”.

Há quase uma década, Ricardo Líper divulgou pioneiramente Jack Malebranche / Donovan aos homens brasileiros adeptos da Tradição Espartana. Reitero o que escrevi, em 2015, na página ‘Novidades Front’:
“O Código dos Homens - Ed. Simonsen foi lançado cá em Pindorama (Brasil). É a 1ª obra em português do Jack Donovan. Que fique bem claro: quem apresentou Donovan ao Brasil (2007) foi Ricardo Líper, acadêmico da Universidade Federal da Bahia. Fico indignado por Líper não ter sido chamado para fazer a apresentação de tal livro, pesquisador que é da virilidade masculina distante dos ‘programados e gays’.”

Em princípio, eu me dirijo e escrevo aos meus camaradas brasileiros, que são poucos e raros. Envaidecido e agradecido eu constato que, apesar de escrever em meu idioma (português), 50% de meus leitores são estrangeiros.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Duplo Espírito ou Transgênero?



Foto 1: We'wha (1849-1896) com roupas tradicionais do povo Zuni. Era biologicamente masculino com espírito feminino. Muito inteligente, se tornou o embaixador Zuni em Washington DC e foi conhecido pela elite da capital como "o Zuni homem-mulher".

Foto 2: Squaw Jim (esquerda), macho biológico vestido de mulher com sua esposa (direita). Tinha status social e cerimonial em sua tribo Crow. Serviu como espião no Forte Keogh e ganhou reputação de bravura ao salvar a vida de um companheiro tribal na Batalha de Rosebud (1876).


Senso comum sobre Transgêneros (sexo masculino, gênero feminino) no Brasil atual:
- Violência, prostituição, pobreza e ignorância cultural;
- Empregos em salões de cabeleireiros (fofoca e futilidade a granel), shows em casas noturnas gays + participações em programas televisivos popularescos com as previsíveis e chatíssimas dublagens;
- Exibicionismos patéticos e ignorantes na mídia, frutos da miséria cultural dos quais muitos são oriundos;
- Estranhamente não são laicos. Clamam e invocam seitas e religiões puritanas que os reprimem há séculos;
- São desrespeitados ao máximo e tolerados apenas quando possuem certo destaque sócio cultural.

Mas nem sempre foi assim no continente americano. No hemisfério norte, europeus colonizadores encontraram entre os nativos alguns homens e mulheres que os perturbaram... eram conhecidos poeticamente como Dois Espíritos. Quando crianças, não foram reprimidos e eram livres para viverem seus gêneros quando adultos. Casavam-se e procriavam se quisessem. Alguns homens e mulheres eram valentes guerreiros ou pessoas comuns, líderes tribais ou religiosos. Homens vestiam-se de mulher e vice-versa, sem os dramas e preconceitos impostos cruelmente pelos colonizadores aos indígenas das 3 Américas.
Os últimos nativos de Duplo Espírito desapareceram formalmente no final do século XIX.